Deveria a vacinação ser posta em espera ou ser adiada durante a pandemia do COVID-19?

Resumo:

  1. Doenças prevenidas através de vacinação estão reaparecer em todo o mundo devido à diminuição dos níveis de vacinação.
  2. Interromper e adiar a imunização de rotina pode causar outra epidemia ou até uma nova pandemia após a atual pandemia do COVID-19.
  3. É muito importante seguir as directrizes oficiais sobre os procedimentos de imunização e a atual pandemia do COVID-19.

A pandemia do COVID-19 ainda está em ascensão em todo o mundo, em que actualmente o número de pessoas infectadas (06.05.2020) já passou de 4 000 000 [1]. Com o elevado risco de infecção pelo vírus SARS-CoV-2, muitas pessoas têm-se recusado a seguir o programa de vacinação para seus filhos [2, 3]. Essas decisões são motivadas principalmente pelo medo de transmissão do COVID-19. Felizmente, muitos pediatras tomaram medidas para tornar a vacinação mais acessível durante estes tempos difíceis.

A pandemia atual também tem causado atrasos forçados na imunização contra doenças através de vacinas [4]. Por causa do COVID-19, as campanhas de vacinação nos países em desenvolvimento estão suspensas. Com um acesso muito limitado a cuidados de saúde, muitos países podem enfrentar surtos de doenças como poliomielite ou o sarampo. Com base nos casos registrados, o sarampo foi responsável por cerca de 140 000 mortes apenas em 2018.

Seguir os programas de vacinação durante a atual pandemia pode evitar uma epidemia adicional de doenças que são prevenidas através de vacinas.
Seguir os programas de vacinação durante a atual pandemia pode evitar uma epidemia adicional de doenças que são prevenidas através de vacinas.

O sarampo é extremamente contagioso, mas está no caminho da erradicação desde que a vacinação foi introduzida em 1963 [5]. Uma infecção por sarampo pode levar a complicações graves, como diarreia persistente, pneumonia, superinfecções bacterianas, encefalite por sarampo ou até morte. Infelizmente, em países como os Estados Unidos, o número de casos de infecção começou recentemente a crescer novamente devido a iniciativas de recusa de vacinas. Das pessoas diagnosticadas com sarampo em 2013 em Nova York, 78% dos casos foram resultado de recusa em inocular ou atraso intencional da imunização [6].

O crescente ressurgimento do sarampo também pode ser observado na Europa [7]. As autoridades da União Europeia registraram 14 732 casos de sarampo entre Fevereiro de 2017 e Janeiro de 2018. Mesmo antes da pandemia atual, o programa de vacinação em países como a Itália era 10% abaixo do limiar de imunidade do grupo (95%) [7-9].

Para além de alguns indivíduos recusaram conscientemente a vacinação, a história mostra-nos que a pandemia em curso pode ainda causar mais danos do que os observados [10]. Durante a epidemia do Ébola na Guiné entre 2014 e 2015, os programas de vacinação foram interrompidos para impedir a propagação do vírus. No entanto, isso resultou num surto de sarampo neste país nos meses imediatamente a seguir ao surto de Ébola.

O sarampo é apenas uma das doenças que potencialmente pode causar uma epidemia. É por isso que os programas de vacinação estabelecidos não devem ser descorados durante a pandemia de COVID-19. Consequentemente, a OMS está pedir para não se interromperem as vacinações [11]. É de suma importância não trocar ou, pior ainda, reforçar o SARS-CoV-2 com outro patogénico qualquer.

Referências:

  1. WHO, Coronavirus disease (COVID-19) Situation Report – 111. 2020, World Health Organization.
  2. Pawlowski, A., Vaccine rate drop is ‘huge concern’ for pediatricians during pandemic, in TODAY. 2020.
  3. Villarreal, A., Delays in childhood vaccinations could lead to outbreaks, experts warn, in The Guardian. 2020.
  4. Roberts, L., Pandemic brings mass vaccinations to a halt. Science, 2020. 368(6487): p. 116-117.
  5. Porter, A. and J. Goldfarb, Measles: A dangerous vaccine-preventable disease returns. Cleve Clin J Med, 2019. 86(6): p. 393-398.
  6. Rosen, J.B., et al., Public Health Consequences of a 2013 Measles Outbreak in New York City. JAMA Pediatr, 2018. 172(9): p. 811-817.
  7. Siani, A., Measles outbreaks in Italy: A paradigm of the re-emergence of vaccine-preventable diseases in developed countries. Prev Med, 2019. 121: p. 99-104.
  8. Thompson, K.M., Evolution and Use of Dynamic Transmission Models for Measles and Rubella Risk and Policy Analysis. Risk Anal, 2016. 36(7): p. 1383-403.
  9. Coughlin, M.M., et al., Perspective on Global Measles Epidemiology and Control and the Role of Novel Vaccination Strategies. Viruses, 2017. 9(1).
  10. Suk, J.E., et al., Post-Ebola Measles Outbreak in Lola, Guinea, January-June 2015(1). Emerg Infect Dis, 2016. 22(6): p. 1106-8.
  11. WHO, Guidance on routine immunization services during COVID-19 pandemic in the WHO European Region. 2020, World Health Organization.