Reportório Céptico (The Skeptic’s Repertoire PT)
O repertório do céptico – Mais outro conjunto de argumentos falaci

O repertório do céptico – Mais outro conjunto de argumentos falaci

Resumo:

  • Existem várias estratégias de discurso que podem ser usadas para ganhar vantagem numa discussão ou influenciar a audiência para o seu lado.
  • Argumentum ad ignorantiam é uma tentativa de provar uma alegação dizendo que ainda não foi provado o contrário.
  • Argumentum ad nauseam é qualquer argumento que é considerado, por quem argumenta, ganhar força através do número de vezes que é repetido.
  • Argumentum ad numerum é uma forma de argumentação baseada na premissa de que as opiniões aceites por um grande grupo de pessoas devem, portanto, ter algum mérito.
  • Estes tipos de falácias são considerados como falácias de suposição, porque assumem mais do que podem provar.

As opiniões contrárias sobre qualquer assunto – desde extraterrestres que visitam o nosso planeta até à utilidade da religião no espaço público – são abertamente discutidas na aparente celebração das leis da liberdade de expressão e do fórum aberto. Contudo, a qualidade do debate frequentemente deixa muito a desejar no que diz respeito ao raciocínio. Uma variedade de argumentos fracos ou inválidos é utilizada no debate online e offline da atualidade. Estes argumentos frequentemente não seguem a lógica; isto é, “(…) a forma como as ideias podem ser ligadas e utilizadas para explicar as coisas ou dar razões” [1]. Este artigo irá explicar três tipos de argumentos ilógicos e outras falácias que muitas vezes os acompanham.

The skeptic's repertoire – Another set of fallacious arguments

Argumentum ad ignorantiam

Um argumento de ignorância é um tipo de raciocínio em que uma premissa é considerada verdadeira porque ainda não foi provado o contrário. O orador poderia, por exemplo, afirmar que os extraterrestres visitam o nosso planeta e raptam agricultores porque nunca foi provado de forma conclusiva que tal não aconteça. No entanto, como se diz na Web Secular [2], “Na investigação científica, se se soubesse que um evento produziria certas provas da sua ocorrência, a ausência de tais provas pode ser validamente utilizada para inferir que o evento não ocorreu”. O que se tira daqui é que devem ser produzidas provas para apoiar a alegação de que os extraterrestres visitam o nosso planeta e perturbam o status quo; e não o contrário. Nunca foram apresentados quaisquer implantes, ligas metálicas, partes de naves espaciais, tecidos corporais, artefactos, ou mesmo fotografias persuasivas.

 

 

Argumentum ad nauseam

Pensa-se que certos argumentos ganham plausibilidade quando são repetidos vezes sem conta. É o que acontece com o argumento da repetição. O orador – e supostamente a audiência – considerará o argumento mais válido se for reafirmado com mais frequência do que opiniões opostas [3].

Qualquer grande religião baseada em textos sagrados pode servir de exemplo aqui. Quanto mais tempo um dado sistema de crenças funcionar, mais apologistas emergem, e mais obras literárias sobre ele são escritas. Consequentemente, as fés antigas têm centenas e milhares de manuscritos, livros, ensaios, comentários, e panfletos que as suportam. No entanto, todos estes documentos são supostamente baseados num número limitado de escrituras, o que significa que – sem quaisquer revelações mais recentes – reafirmam as já existentes.

Argumentum ad numerum

Este argumento baseia-se no número de pessoas que já acreditam que uma proposta é verdadeira; é também conhecido como argumentum ad populum – um argumento que apela à opinião popular da audiência. Por exemplo, uma sondagem Gallup divulgada em 2019 [4] sugere que, na altura, 40% dos inquiridos acreditavam que a evolução através da seleção natural era uma falsa explicação das origens humanas. Por outro lado, 22% acreditavam nas origens evolutivas do Homo sapiens (embora fosse mais exacto dizer que 22% compreendiam o processo evolutivo, uma vez que é o único modelo com uma base científica sólida. Alguém poderia concluir que 40% da população não pode estar errada, e por isso a evolução é desmentida. Não é este o caso, quanto mais não seja porque a teoria da evolução já conseguiu prever certas descobertas científicas e não exige a aceitação do público em geral [5]. É, por outras palavras, extremamente improvável que seja falso no momento atual do desenvolvimento científico.

Argumentum ad numerum é frequentemente acompanhado de argumentum ad antiquitatem, o que supõe que certas crenças existem há tanto tempo que devem ser verdadeiras. Este argumento pode ser facilmente refutado se considerarmos, por exemplo, por quanto tempo a humanidade acreditou que a Terra era o centro do universo ou que era plana. Para ser justo, ainda há pessoas que acreditam que a Terra é um disco plano, e a existência prolongada da sua opinião claramente não a valida.

Conclusão

Lidar com falácias lógicas é uma tarefa diária para quem segue os meios de comunicação, participa em debates online, ou simplesmente quer aprender. As divisões políticas e ideológicas no século XXI são tão fortes como sempre e requerem ferramentas cépticas e lógicas para destilar adequadamente a informação. A desinformação e a propaganda são geralmente disfarçadas em argumentos aparentemente sólidos, mas um céptico devidamente armado não deve ter problemas em filtrá-la.

Referências:

  1. Macmillan Dictionary / Retrieved September 20 2021 from https://www.macmillandictionary.com/dictionary/british/logic
  2. The Secular Web / Retrieved September 20 2021 https://infidels.org/library/modern/mathew-logic/
  3. Long, Jason (2005). “Biblical Nonsense: A Review of the Bible for Doubting Christians”, Baseless Assertions. Iuniverse, 2021 Pine Lake Road, Suite 100, Lincoln, NE 68512. ISBN: 978-0-5957-8954-2 (ebk)
  4. Gallup / Retrieved September 20 2021 https://news.gallup.com/poll/261680/americans-believe-creationism.aspx 
  5. National Center for Science Education / Retrieved September 20 2021  https://ncse.ngo/predictive-power-evolutionary-biology-and-discovery-eusociality-naked-mole-rat